Arrogância política e revolta… Camilo Mortágua

Quem é que pensa que a maioria dos portugueses se motiva por dinheiro? Quem é que pensa que a maioria da Sociedade Portuguesa não tem dignidade, nem capacidade de reacção?

Que nós, a maioria dos portugueses, de todas as condições, só nos ofendemos com quem nos rouba uns euros, e não com quem nos obriga do alto dum temporário poleiro, a entregar-lhe não só o dinheiro, mas também a alma, também o silêncio da revolta impotente, de humanos violados na mais essencial das manifestações  de Humanidade.

A Dignidade de sermos livres.

Livres, e capazes de dizer não, sem por isso ser submetidos, sem alternativa, à vontade escravizante dum qualquer semelhante. – Quem, de forma generalizada pensa assim de nós…infelizmente, somos Nós, condicionando-nos a nós próprios!

Há quem pense, mais à direita, mas também à esquerda, que a diferença entre uma coisa e outra se resume apenas, numa questão quantitativa, material e financeira. Tenho consciência da importância do quantitativo para poder sobreviver neste Mundo do TER, mas compreendo que em circunstâncias limites, de encontro com as próprias razões de SER, o passional intrínseco do ser Humano se revolte, sem cálculos de nenhuma espécie, contra o pretendido aprisionamento e domínio do Espírito, da consciência e da LIBERDADE.

Nestas condições, já pouco interessam os tostões ou os milhões. Socialmente, emerge algo mais alto e forte que os exércitos e as repressões arbitrárias, algo que anula até razões particulares e se transforma em expressão de sentimento colectivo, em paixão pouco ou nada alimentada por razões. Nessas condições, a única razão que prevalece é a da multidão, verdadeiramente soberana e irracional…O Caos? – talvez!

Á  mulher de César…não basta ser…!

Não ter percebido, que a arrogância e o aparente desfrute de mandar, (muito mais que o valor das medidas impostas). Despertaram e acicataram a vontade de “lavar” a ofensa que nos faziam, foi talvez o maior dos erros dum jovem lobo impreparado, convencido que era dono duma alcateia à sua imagem, incapaz de distinguir  e reconhecer cidadãos  entre os  seres que o tinham guindado ao poder.

Os portugueses tinham contas a ajustar com quem os tinha ofendido, tratando-os como seres inferiores e sem auto – estima, irritações que, de início, só implicitamente tinham a ver com o bem estar material, mas que passaram a pertencer ao foro do SER, cujos valores nunca se afirmaram especialmente penetráveis à inteligência de quem  ambiciona o ter, sobre todas as coisas.

Não!

A verdadeira diferença entre Governo e Oposição, não pode ser SÓ quantitativa – isso é um logro, A FUNDAMENTAL DIFERENÇA não são os milhões ou os tostões, a verdadeira diferença… é de princípios e de ter ou não ter sensibilidade para ser líder político, para respeitar o sofrimento dos governados. Por pouco que estas coisas sejam valorizadas pela direita, e insuficientemente defendidas pela esquerda.

Apesar de tudo, a maioria de esquerda que nos governa, foi e ainda é, até ver, o instrumento de resgate da violentação dum povo a quem quiseram aviltar e retirar-lhe a consciência; evitando a tempo, uma muito maior explosão social de consequência imprevisíveis.
Camilo Mortágua
Agosto 2017

Nota final.
Ao contrário do que é afirmado, os indicadores do estado duma nação não podem ser só os materiais.
A motivação duma população para contribuir, com prazer e alegria, para o resultado material comum, é um indicador vital do estado anímico dessa Nação..

Dignidade e Cidadania…em crise, São Esperança Ferreira

13 e 14 de Março de 2015, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa

Dignidade e Cidadania…em crise / 

O tempo que vivemos, estava de há muito anunciado.

Não se sabia exactamente qual seria o cenário da sua implantação, mas sabia-se, isso sim, que um dia, a ” Linha vermelha” do equilíbrio entre:    por um lado,    os trabalhadores activos e consumidores solventes  e, por outro lado,  os  desempregados e consumidores insolventes e famintos,     seria alcançada !…  e, que aí chegados, a essa espécie de equador da evolução da humanidade, a ultrapassagem dessa linha, desse equilibro,   seria extremamente turbulenta e de resultados incertos. Não apenas para nós portugueses, mas para toda a Humanidade. Continuar lendo

Exilados.  ( Memórias de exilados) Camilo Mortágua

Exilados.  ( Memórias de exilados).

Grandes linhas de separação ás várias condições de exilados,

Exílios e emigrações:

a). Os que começam por ser emigrantes e viram exilados….que adquirem a consciência de exílio nos países de acolhimento,

b) Continentais e trans – oceânicos, nessa época, hoje é diferente, a mobilidade é outra.

c) Os que vão como exilados e viram emigrantes.

Os que vão como emigrantes e viram exilados

d) Os que apesar de tudo voltam diferentes….mais cidadãos e menos cavadores de riqueza.

e) Ser exilado activo  ou passivo…etc. etc.

f) O anátema, a vergonha de voltar pobre, de ser um falhado!

Preferível morrer lá longe na miséria.

Questões que muitos milhões de Portugueses espalhados pelos diversos  cantos do mundo conhecem bem.

Camilo Mortágua

 

“Todo o pensamento começa por um poema”, ensinava Alain no seu diálogo com Valery, Guadalupe Portelinha

 “Todo o pensamento começa por um poema”, ensinava Alain no seu diálogo com Valery.

Neste tempo, sem tempo, de permanente corrida contra ele e não com ele, o tema da liberdade, por ser intemporal deve e tem que acompanhar as vidas de cada pessoa, não se vá ela perder ou disfarçar, assumindo formas perversas e enganadoras. Por isso é também fundamental o conceito de pensamento crítico associado à Liberdade bem como à Equidade e Fraternidade, pilares maiores da nossa civilização. O conceito de pensamento crítico ainda hoje difícil de organizar e desenvolver nas sociedades humanas, traz- me à memória a figura de uma mulher que nasceu no ano 350, num tempo, como o de hoje, em muitos lugares do mundo, em que eram sonegados à mulher o direitos mais fundamentais, incluindo a sua capacidade de pensar. Continuar lendo

Venha a ser o que for, no futuro haverá menos empregos, para pessoas muito mais qualificadas?, Camilo Mortágua

E Liberdade?

E eu pus-me a pensar… (menos empregos, mais qualificados) deve querer dizer: pessoas mais e melhor preparadas para operar com máquinas novas, com novas tecnologias, coisas sofisticadíssimas dotadas de altas capacidades de cálculo e rapidez de execução, coisas para engenheiros especialistas formados em institutos.
Capazes de produzir as elites “operárias” do futuro. Continuar lendo

O Pensamento Crítico no “Chão da Fábrica”, Camilo Mortágua

Obviamente, sem a acumulação dos necessários conhecimentos a sustentarem credíveis referenciais para uma qualquer discussão formativa, cada indivíduo estará sempre muitíssimo limitado na discussão, e acabará, na melhor das hipóteses, por desinteressar-se das questões, sem ter percebido as suas consequências. Parece-me valer a pena, dada a fulcral importância das mudanças mais ou menos previsíveis no mundo do trabalho e das tecnologias de produção, reflectir seriamente sobre as  possibilidades de levar até aos locais de trabalho o essencial destas discussões. Continuar lendo